sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
Últimos Segundos
Parecia uma pequena sala de balé, com a diferença de que só havia espaço para o piano – um lindo Baldwin – que havia lá. Quem o tocava? Ninguém, entretanto, uma moça se preparava para fazê-lo. E quem era ela?
Uma moça de 18 anos com o corpo em forma, mas sem realmente ligar para isso. Seus cabelos ruivos e compridos até a cintura formavam pequenos e definidos cachos nas pontas. Apesar disso, não havia frizz algum no mesmo. Seus olhos de um azul-celeste penetrante percorreram toda a superfície do instrumento, cravando-lhe um olhar muito gélido. Seus lábios finos e ressecados crisparam-se levemente e ela pousara suavemente as pontas de seus dedos compridos e finos no instrumento. Suas unhas eram compridas e cuidadosamente pintadas de um branco Paris. Agora ela devia estar pensando em que musiquinha tocaria. Através de seu narizinho de boneca, suspirou profundamente. Pálida, ela.
Vestia roupas muito comuns. Uma babylook branca, uma calça jeans justa e nos pés o velho e esfarrapado companheiro de todas as horas: seu All Star.
O ar em sua volta era cálido. Para um ser-humano isso seria assustador. Como eu não era um ser-humano, isto era muito convidativo.
Fui me aproximando daquela moça ao som fúnebre de seu piano. Sentei-me ao lado dela. Sem notar, ela havia me concedido espaço para tal.
Não fiz absolutamente nada além de ouvir aquela música de funeral e chamá-la para mim.
Depois, saí de lá na companhia de sua alma, sem me preocupar com o que iria acontecer com o corpo inerte de Angelique.
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
ORIGINAL
I was astray from everything with a blade in my hands. Sweet empathica! I was also widowed because I am the lead. The leader most adventure-filled ever. And with praise. The blade sparkles in my hands. And what about the pale scenery with a waterfall on the background? The Ever Free tuck me in, swaying me.
I was strapped at the shore. The tide looks like a robber and I… Infanticide. I was rejoicing, daydreaming a feast about what I did.
There was a body rotting in front of me. The slain one. The feast was a tolling for us. Farewell, kid. Remains in front of me.
Now it was spitting on us. I know I’m a grave case.
¬ Be still – I said to the kid – Be still descending from Earth to Hell. I’ll meet you there.
And the pawn keeps moving, blindfolded by me.
¬ Siblings, I’ll noose you. I won’t forsake ‘til I get where I want. Don’t you keep doubting about me.
Caress is what I need now. Would you give me some? In this moment a brief and never-fading daybreak comes out, breathtaking me. It lays me when comes with seawinds and leaves me bated. A blank leech and some greed flee from me. And I still panting. I got no feed.
Masses don’t touch me anymore. The draws have reek. And nothing tames me again. This kid was mocked among depths of curse and wrath. And I, a humble mariner, made his tomb under a swarm.
Soaring. Chase and aegis.
The lust was bashful in the Elysian Fields.
My blackened harem despises a crimson dart in the molten stream.
Forlorn, my eyes gazes the horizon and I foresee a tempest-tossed beacon near the anchorage. Again I was long-forgotten in the set on the fog just because I also was unheard. I howl and swing the anchor to the seabed. The scent of dew takes over the place. Remind me my acre childhood.
I wither with the kid.
TRADUÇÃO
Eu estava perdido de tudo com uma lâmina nas mãos. Doce empatia! Eu também estava solitário porque eu sou a liderança. O líder mais cheio de aventura de todos os tempos. E com prazer. A lâmina cintila em minhas mãos. E o que falar sobre o pálido cenário com uma cachoeira nos fundos? O Sempre Livre me guardou, me balançando.
Eu estava acorrentado à costa marítima. A maré parecia um ladrão e eu... Infanticídio. Eu estava regozijando-me, fantasiando um banquete pelo que eu fiz.
Lá estava um corpo apodrecendo na minha frente. O assassinado. O banquete era um tributo a nós. Adeus, criança. Restos mortais na minha frente.
Agora estava chuviscando sobre nós. Eu sei, eu sou um caso grave.
¬ Continue. – eu disse à criança – Continue descendendo da Terra para o Inferno. Eu te encontro lá.
E o peão continua se movendo, vendado por mim.
- Irmãos e irmãs, eu vou pegar em armadilha vocês. Eu não vou renunciar até chegar onde quero. Não continue duvidando de mim.
Afago é o que eu preciso agora. Você me concederia? Agora uma breve e nunca desaparecida aurora surge, tirando meu fôlego. Isso me acalma quando vem com ventos marítimos e me deixa umedecido. Uma sanguessuga branca e alguma cobiça fogem de mim. E eu continuo ofegante. Eu não tenho sustento.
Multidões não me tocam mais. As valas têm cheiro ruim. E nada me doma de novo. Essa criança foi caçoada dentre as profundezas da maldição e da ira. E eu, um humilde marinheiro, fiz seu túmulo sob um enxame de abelhas.
A grande altura. Perseguição e amparo.
A luxúria estava tímida nos Campos Elysian.
Meu harem enegrecido despreza um dardo carmesim no liquefeito córrego.
Aflito, meus olhos olham fixamente o horizonte e eu prevejo uma tempestade lançada no farol perto do ancoradouro. Novamente eu estava esquecido há muito tempo na sociedade no nevoeiro só porque eu também estava inaudito. Eu uivo e giro a âncora para o fundo do mar. O aroma do orvalho toma conta do lugar. Lembra-me da minha infância acre.
Eu murcho com a criança.
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
Minha figura sobre eu mesma
Talvez quando uma criança requer atenção seja por excesso de amor. Pense bem, uma criança que nunca teve atenção se acostumou a viver com isso e não se importa, mas uma criança que sempre viveu rodeada de atenção sentirá falta da mesma quando esta acabar-se. E qual será a sua primeira reação? Fazer por onde para conseguir a devida atenção, claro. É uma pena que às vezes nem assim dê certo.
Eu era uma criança mimada. E, consequentemente, cresci sendo assim. Na adolescência nunca tive ninguém que me mostrasse o caminho oposto, afinal éramos apenas eu e aquela que tanto me mimava. Até hoje a odeio por isso, por mais que na época eu não soubesse.
Quando minha mãe morreu, por eu ser tão mimada à ponto de ninguém mais viver perto de mim, não tive para onde ir. Eu não era muito nova, mas estava acostumada a ganhar tudo de mão beijada e não sabia o que fazer. Ainda mais que eu não sabia fazer absolutamente nada sozinha e não tinha conhecimento sobre nenhum parente. Aliás, nem mesmo eu tive a ideia de ir até o cartório procurar pelo meu parente mais próximo.
Nesse dia eu havia ido para a escola de manhã cedo como fazia todos os dias. Eu estudava no Pastor Dohms-Hiegen e estava no meio da minha aula de alemão quando a diretora do colégio batera na porta da sala de aula e chamara por mim. Eu estava no segundo ano. Era a diretora do colégio, o professor não poderia dizer não para ela, então apenas acenou para que eu a acompanhasse.
Um pouco assustada, obedeci. Meus olhos estavam como amêndoas e minha pele como papel. Ainda me lembro de olhares atravessados em minha direção enquanto eu caminhava ao lado da diretora pelos corredores. Quando chegamos a um corredor em que só era possível ouvir os saltos de ambas as mulheres batendo contra ao chão, ela parou e se virou para mim.
A notícia fora a pior de todas, entretanto meus olhos já não eram mais amêndoas e nem minha pele cor de papel. Eu nunca havia perdido ninguém, já que não havia ninguém para perder, então apenas respondi:
¬ Ok.
Talvez ela não tenha entendido, mas, como as regras da alta sociedade exigiam, pagou um táxi para que eu fosse direto para casa. Quando chegamos lá (eu morava em uma bela e imensa casa de esquina) já não havia mais casa alguma, eram só restos. Eu não pensava exatamente na morte de minha mãe, mas pensava no que eu faria agora.
O taxista era neutro na história, então apenas me deixou lá e foi embora.
Caminhei um certo curto tempo dentre os restos do que um dia fora a minha casa. De vez em quando ainda olhava para os lados na esperança de que alguém aparecesse para me acudir, mas era uma vã esperança.
A noite chegou e eu resolvi dormir por lá mesmo. No outro dia fui ao colégio. E assim se seguiram os próximos dias. Nas manhãs eu acordava com algumas moedas deitadas ao meu lado, o que era o suficiente para comprar o pão que me alimentaria o resto do dia.
Quando acabou o semestre, fui proibida de voltar ao colégio, pois a mensalidade já estava atrasada. Tentei me inscrever em um colégio estadual, mas era preciso um responsável maior de idade.
E meus dias foram se passando assim... Eu vivia de esmolas, igualzinha àqueles meninos de rua que eu sempre odiara por viverem me pedindo esmolas.
Eu estava igualzinha à eles: sem nada, sujeita à coisas que eu nunca havia imaginado que passaria antes, com meus desejos todos virados do avesso.
Também não tive outra escolha.