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quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Minha figura sobre eu mesma

Talvez quando uma criança requer atenção seja por excesso de amor. Pense bem, uma criança que nunca teve atenção se acostumou a viver com isso e não se importa, mas uma criança que sempre viveu rodeada de atenção sentirá falta da mesma quando esta acabar-se. E qual será a sua primeira reação? Fazer por onde para conseguir a devida atenção, claro. É uma pena que às vezes nem assim dê certo.

Eu era uma criança mimada. E, consequentemente, cresci sendo assim. Na adolescência nunca tive ninguém que me mostrasse o caminho oposto, afinal éramos apenas eu e aquela que tanto me mimava. Até hoje a odeio por isso, por mais que na época eu não soubesse.

Quando minha mãe morreu, por eu ser tão mimada à ponto de ninguém mais viver perto de mim, não tive para onde ir. Eu não era muito nova, mas estava acostumada a ganhar tudo de mão beijada e não sabia o que fazer. Ainda mais que eu não sabia fazer absolutamente nada sozinha e não tinha conhecimento sobre nenhum parente. Aliás, nem mesmo eu tive a ideia de ir até o cartório procurar pelo meu parente mais próximo.

Nesse dia eu havia ido para a escola de manhã cedo como fazia todos os dias. Eu estudava no Pastor Dohms-Hiegen e estava no meio da minha aula de alemão quando a diretora do colégio batera na porta da sala de aula e chamara por mim. Eu estava no segundo ano. Era a diretora do colégio, o professor não poderia dizer não para ela, então apenas acenou para que eu a acompanhasse.

Um pouco assustada, obedeci. Meus olhos estavam como amêndoas e minha pele como papel. Ainda me lembro de olhares atravessados em minha direção enquanto eu caminhava ao lado da diretora pelos corredores. Quando chegamos a um corredor em que só era possível ouvir os saltos de ambas as mulheres batendo contra ao chão, ela parou e se virou para mim.

A notícia fora a pior de todas, entretanto meus olhos já não eram mais amêndoas e nem minha pele cor de papel. Eu nunca havia perdido ninguém, já que não havia ninguém para perder, então apenas respondi:

¬ Ok.

Talvez ela não tenha entendido, mas, como as regras da alta sociedade exigiam, pagou um táxi para que eu fosse direto para casa. Quando chegamos lá (eu morava em uma bela e imensa casa de esquina) já não havia mais casa alguma, eram só restos. Eu não pensava exatamente na morte de minha mãe, mas pensava no que eu faria agora.

O taxista era neutro na história, então apenas me deixou lá e foi embora.

Caminhei um certo curto tempo dentre os restos do que um dia fora a minha casa. De vez em quando ainda olhava para os lados na esperança de que alguém aparecesse para me acudir, mas era uma vã esperança.

A noite chegou e eu resolvi dormir por lá mesmo. No outro dia fui ao colégio. E assim se seguiram os próximos dias. Nas manhãs eu acordava com algumas moedas deitadas ao meu lado, o que era o suficiente para comprar o pão que me alimentaria o resto do dia.

Quando acabou o semestre, fui proibida de voltar ao colégio, pois a mensalidade já estava atrasada. Tentei me inscrever em um colégio estadual, mas era preciso um responsável maior de idade.

E meus dias foram se passando assim... Eu vivia de esmolas, igualzinha àqueles meninos de rua que eu sempre odiara por viverem me pedindo esmolas.

Eu estava igualzinha à eles: sem nada, sujeita à coisas que eu nunca havia imaginado que passaria antes, com meus desejos todos virados do avesso.

Também não tive outra escolha.

Enlouqueci.

2 comentários:

  1. Ler seus textos é uma viagem. Parece que eu estou lendo as palavras escritas num livro de drama contemporânea.
    Apesar de um bocado expressivos, claramente é algo que você pensou e expressou uma situação sua, ou pelo menos algo que você detesta ou algo que você idolatra.
    Não poderia bem traduzir isso de uma forma geral senão por expressivo, preciso conhecê-la melhor para entender o que você deseja expor...
    Comentário final: poderia ser uma fábula, sem mudar muita coisa. Gostei por ter uma 'moral da história'.

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  2. O que mais gosto das suas histórias é que elas me envolvem, tenho que fazer esforço pra me manter insensível a elas e não me emocionar, novamente destaque para a narrativa em primeira pessoa e por toda sua técnica narrativa em si, se eu tentasse contar a mesma história do meu jeito ela não teria o menor sentido. Talvez por isso a história seja sua.

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